quarta-feira, 26 de novembro de 2008

:: Poema

tudo balança
enquanto o vento
ensaia sua dança

:: Poema

Simplicidade
enquanto alguém ali
morre-se ao tentar bater a meta
eu aqui
brinco de poeta...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

:: Poema

Acampamento


Ao MST


Busco em cada chão batido
Minha raiz, minha identidade.
Em cada goteira lonar meu clamor
em cada brisa uma lágrima
em cada uma delas um pedaço
do eu de aço que se dissolve.

:: Poema

7 de junho de 2004
A Carlos R. Leme.

Outros já partiram antes de você,
mas sem que eu pudesse perceber
ficaram por perto
e antes que algo em mim os reclame, retornam.

Não sei como será agora, tento te esperar
como se todos os dias sua partida tivesse acontecido ontem
e o hoje fosse apenas algumas horas sem seu barulho.
Algumas dores sempre existiram, apenas se mostram tarde.

Porque é tarde que entendemos o movimento da vida,
embora sempre achamos cedo e que, amanhã, tudo voltará
ao mesmo quintal, com os mesmos gritos e brigas.

Não temos mais risos à televisão nem pipas ou bolinhas matadeiras.
Não temos mais os mesmos tênis, calças, gravatas e planos.
Temos somente, talvez, o mesmo medo de olhar para trás: crescemos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

:: Poema

Noturno

às vezes
tudo que se é
são
sons esparsos dentre livros não lidos
ruídos no quintal e medo noturno
vazio
em cima
de
vazio
medo do medo
sonho
abraço
cheiro
...

:: Poema

MARINA

És mar intátil
De sonhos esféricos e prateados
Ondulados pela maré de Marina
Senhora moça
Condutora de almas afogadas
Em noites frias
Noites sem mar
Sem Marina
Sem a inútil ilusão
De um dia se afogar
Sem mar
Em Marina

terça-feira, 18 de novembro de 2008

: Texto


Violências:


Não se pode ler qualquer jornal sem mirar, mesmo que se tente fugir, uma chamada que relate algum ato violento, atroz.

A violência é fruto do dia-a-dia, às vezes, de pessoas que jamais poderíamos esperar. Não admira que cada vez mais se queira o isolamento, tendo ou não pessoas por perto, fecham-se os olhos e finge-se que nada acontece ao redor.

Certa vez, chateado com acontecimento muito pessoal, fui a um bar em que geralmente me escoro para esperar alguém, passar o tempo, nesse dia, fui ver um jogo.

Ao chegar já estava 2x0 para o time do Morumbi, quando ouvi alguns gritos e pedidos de socorro vindos de um ponto de táxi ao lado do bar, de início ignorei, pois havia pessoas do lado de fora que sequer viraram o rosto para o lado donde vinham os gritos. Na insistência desses, resolvi olhar melhor, me levantei e vi dois senhores trocando socos e chutes com uma mulher tentando, inutilmente, separá-los: caíra naquele instante ao ser atingida por um soco. Fui até lá, um tranco e outro depois, alguns garçons me ajudaram e, enfim, a luta terminou. Achei estranha a indiferença de tantos, simplesmente, ignorando o fato.

No último final de semana, novamente num bar, mas este já um barzinho, também estranhei a inatividade de tantos ao verem um freqüentador, de modo abusivo, se dirigir várias vezes à sua companheira, numa dessas cenas, ao chocar-se contra minha infeliz presença, eu o toquei, querendo dizer: não foi nada alemão; razão suficiente para ter sido "apavorado" pelo cidadão. Enquanto me desculpava por nada, lembrava da passividade não só do relato acima, mas também de outros: cenas de trânsito, coletivos, fatos cotidianos, que qualquer um que ande pela cidade, e não se faça de cego, pode presenciar.

Durante esses minutos reflexivos, lamentava profundamente o que ouvia, não por mim apenas, e sim por quem os falava, para outros que ouviam e por mais um ou dois que riam. Esses últimos tão pobres quanto quem falava.

Não violência gera não violência. Penso, respiro e leio poesia. De certo modo, pratico poesia, uma vez que acredito em gestos poéticos – inclusive título de um livro de Rubem Alves sobre Gandhi.

Tive remorso só de pensar em reagir. Com isso descobri algo: sou praticamente incapaz de violência. Espero continuar assim, entretanto, espero também não entrar para o clube do "não tenho nada com isso".


Paz e Bem!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

: Texto

Já tinham me ocorrido alguns pensamentos em reação ao socorro bancário feito pelos governos no mundo inteiro, quando isso efetivou-se no Brasil e depois a montadoras e (Nossa Caixa), fiquei ligeiramente indignado: meu exercício de não me estressar ao máximo tem dado certo.

Ora vejamos, o que não falta nesse mundo é gente refugiada passando fome, sem condições mínimas de uma vida razoavelmente digna. Claro que falo aqui de África, Oriente-Médio, América Central e também dos que mesmo em países um pouco ou muitos desenvolvidos têm subvida.

Cansei de ver chamadas na mídia que anunciavam recorde de lucro aos bancos e que nunca havia sido tanto; e vendas de carros então, nem se fala: Viva Lula!

Poderia me estender ao infinito neste texto, mas me recuso e pergunto: O Governo não é tão sem dinheiro pra melhorar saúde, saneamento básico e educação? E como tem pra ajudar bancos e montadoras? – Eles realmente precisam?

Sem dúvida alguma, economistas brasileiros e britânicos me explicariam – provavelmente até me convenceriam – só que estou farto de explicações.

Recomendo a leitura do artigo do Clovis Rossi, na Folha de SP de 13/11/08 – Muito mais sutil e interessante.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

: Texto

Poucos anos vividos, é o que me dizem alguns. Falas pelos cotovelos é o que dizem outros. Mas, principalmente, mais do que imaginam, escuto.
Sejam as histórias de irmãos e primos mais velhos, já que sou caçula de quatro filhos e oito netos, ou conversas alheias em trem, metrô, ônibus e filas – adoro os coletivos por isso – busco sempre ouvir, escutar e apreender algo.
Não há forma melhor de minimizar um problema do que comparar-se a alguém numa situação pior, embora, às vezes, possa parecer maldade. Independente disso, acho que escrevemos diariamente pequenas lições que de um modo ou de outro merecem ser compartilhadas, mesmo que tenham este fim: servir de comparação minimalista a outros viventes.
Sinto hoje saudades de um molho de macarrão, de uma bronca, risada, carne com batatas. Também me vem ao peito a falta de um abraço em específico, de um arroz verde, de mil outras receitas, e, claro, ser acordado pelo beijo, olhar e sorriso. Nunca mais os terei como já tive.
Aparece-me agora, vejam só, uma situação de perda certa – seis meses, um ano, talvez mais...mas quanto?
Certo é que existe um ziguezague constante nesta vida e é preciso contorná-lo, fazer o traçado, queira ou não. Preparados? Não, ninguém o está de fato – sempre derramaremos lágrimas e teremos ombros à nossa espera dizendo: Sabe, soube de uma história que...