terça-feira, 7 de dezembro de 2010

:: Poema

II
azia rima com poesia
que
às vezes
é antiácida
outras
corrosiva
Não há dor que caiba na poesia
mas
se não nela
onde caberia?

:: Poema

Nunca achei trem
ou
metrô
matéria de poesia
mesmo porque
em horário de pico
só se fosse haicai
ou
pílula
se não
não caberia

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

:: Poema

como eu queria agora um cafe forte de coador
ver a água ferver, escurecer e escorrer
fazer cara feia sem sentir dor
limpar a boca com as costas das mãos e com desprezo
estalar os lábios: menos satisfação e mais torpor

queria agora um café forte de coador
buscando sinestesicamente teus sabores
cinicamente minhas dores
descobrir pelos cantos da casa seu odor

um café forte de coador
com aquele cheiro só seu
todo açucarado, melado
cheio de cristais

cafezinho forte de coador
sem motor, sem barulho, sem pressa: só fervor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

::: Conto (?)

 

 I

 

Certa vez pele embriagada me ludibriou com caminhos do então: mordia meu calcanhar a escorrer sangue e do barro fez-me mais preso ao chão.

 

II

 

Flutuo na azia carbonizada: artérias ardem suavemente enquanto canto uma  canção desavisada aos que sorriem felizes de um modo simplesmente possível.

 

 

terça-feira, 5 de outubro de 2010

:: Poema

- Sem título -

Guarde o desespero
O surto
O GRITO
Guarde tudo isso para depois.
Espere o silêncio
...
Mas não se iluda em prendê-lo
Que paz verdadeira não se tem nessa vida
E a utopia é combustível invisível nos teus pulmões
Não desperdice assim a insanidade
Munição tão cara não se joga fora
Alimente-se do trânsito
do aperto
do transe
da espera
das dores
da inveja
Tudo isso fortalece
E o teu trabalho, acredite, enobrece
Não adianta clamar
Todo ruído é feito de clamor
Teu piso é pedra
Teu riso é pedra
Tua cartilagem é de pedra
E a pedra dura porque é muda
Discreta: fortaleza de fragmento de terra.
Guarde o desespero
O surto
O GRITO
Guarde tudo isso para depois.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Evento


Olá!

Alguns versos meus foram incluídos numa produção da 127FUNDOS Cia. de Teatro que será exibida no próximo dia 18/09/2010 - 18h - no SESC IPIRANGA.

Após a apresentação, haverá um rápido bate-papo com os poetas.

Todos são muito bem vindos!


Saudações,
N. L. Junior


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

:: Poema

desencontro
:seus pontos
em outra reta.

:: Poema

 
são seus traços
que delineiam
meu compasso
 

:: Poema

 
 
busco nos olhos alheios
a cura do cansaço
o peito vazio espreita
 

quarta-feira, 23 de junho de 2010

: Texto

Falar sobre o amor é sempre um risco absurdo de cair no clichê ou dar tiro no pé. De qualquer maneira, decidi correr esse ou esses riscos.

Não sou do tipo solteiro convicto como alguns gostam de ser ou parecer e como outros me classificam, aliás, costumo responder que sou um convicto da felicidade! Só ou acompanhado o sujeito deve buscar sua alegria, bem estar: felicidade. Para tanto, reproduzo um conceito comum em que a vida se constitui de momentos felizes e que como sabemos não são os únicos de uma vida minimamente normal.

Ao "involuntariamente" pensar neste assunto, imaginei o seguinte cenário: a mulher ideal seria além de linda – aos meus olhos -, amiga, admirável, independente e simples. Ela seria também carregada de uma alegria natural e essa seria sua única exigência: que você fosse também naturalmente alegre.

Idealização, clichê, obviedade ou qualquer outra coisa, pouco importa nome ou característica dada, o amor deveria ser assim.

O exemplo é dado por meio de uma mulher e ilustra um relação amorosa, porém isso se estende para tudo: pai para filho e vice e versa e , claro, amigos; aliás essa formula deriva muito da relação de amizade dentro e fora do círculo familiar.

É delicioso gostar de alguém e simplesmente não sofrer com suas viagens constantes ou longas, pelo contrário, curtir a ideia e superar a tristeza inicial por curtir a mesma expectativa boa do outro e depois ser também beneficiado da sua alegria e êxito: "o amor é paciente, cuidadoso e não tem vaidade" bíblia sagrada, corintios, 13. "O amor é […] amor", Camões.

Desconheço a contribuição da psicologia ou qualquer outra mais moderna, mas quando não é assim, pode até parecer amor, pa-re-cer.

Se machuca, se destrói, se afasta, ou seja, se a vaidade fala mais alto, o amor está contaminado ou não é amor.


Sobre saudade e ciúmes.


Saudade é presença em nós de algo bom do outro: "é amor que fica", citando um médico que cita um paciente. Ausência é, na verdade, presença. Todos somos provas de que valorizamos mais algo ou alguém quando somos afastados. Outra obviedade: saudade é bom, aliás, muito bom!

O ciúmes é fundamental em qualquer relação, desde que mantido a níveis seguros, funciona como o raio: descarga elétrica que fertiliza o solo.


Todos conhecemos uma ou outra história amorosa, filial ou de amizade que enche-nos de esperança ou de tristeza, isso é a vida real.

Particularmente não creio que minha definição inicial seja um idealização: temos em maior ou em menor medida esse amor paciente, cuidadoso e sem vaidade; precisamos sim é acordar para ele em todas as suas esferas: aproveitá-lo muito e oferecê-lo muito, contudo, para que isso seja real é indispensável que isso comece com seu interlocutor inseparável que é você mesmo.

Seja consigo o que gostaria que outros fossem: amigo, admirável, independente e simples.

Estar bem com seu eu, ou seja, em equilíbrio, é o mínimo que você pode fazer por você mesmo e por mais paradoxal que pareça, isso não quer dizer, nem de perto, rir o tempo todo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

:: Poema

DECLARAÇÃO


É você
mesmo que tardio
meu estalo
meu clichê
obviedade de minha confusão
É você
minha catacrese
meu ritmo acelarado
minha melopeia
É você
meu ato sem ação
minha insônia
meu riso amarelo
meu motivo de reclamação
É você
alegria que entristece
meu maior presente
manhã que me anoitece
É você
meu abono legítimo
meu algo no vazio
nascente da minha alegria
meu rio
É você
meu arroz caseiro
meu fuba com erva doce
doce de leite mineiro
É você
minha sombra
minha brisa
minha tapioca exagerada de Iracema
meu pôr do sol em Fortaleza
É você
sem dúvida
calor e calafrio
meu melhor estalo
mesmo que tardio.

sábado, 29 de maio de 2010

:: Poemas


 
Entalpia
 
Mordo seu riso amarelo
antes que tudo
seja cinza
 
 
 
Entropia
 
enquanto sinto você
es
co
r
r
endo
 de mim
 
 

segunda-feira, 12 de abril de 2010

:: Poema

Tenho livros que jamais lerei
não raro perco a fé nos estudos
depois volto a eles como se fossem a única saída
vozes cruzam minha cabeça sem que as distingua
sem que as ouça de fato
são ônibus e motos de escapementos abertos
transitando entre os espaços que separam meus neurônios
mesmo no estado de sono não me recomponho
eu sou caos ao acordar
sou dor
desespero
um rascunho
versos soltos num guardanapo amaçado
poema incompleto que anda

quinta-feira, 8 de abril de 2010

::: Conto (?)


"Não vou tocá-la. Meu tato é limitado. Meus olhos te tem inteira."


::: Conto (?)


"De manhã meu corpo era um rascunho caótico do seu."


::: Conto (?)

Gostava de vê-la nua esperando o amanhecer na janela, fingia dormir,mas observava-a.
Se existisse alguma verdade, pareceria com ela nua, esperando o amanhecer na janela.





sábado, 3 de abril de 2010

::: Conto

Fernanda foi assim: se apresentou, jantou, bebeu umas e outras. Mostrou que tudo é vontade, questão de querer ou não fazer. Quando parecia que ia ficar, partiu.
Alguns sorrisos e abraços, depois, partiu. Não deixou explicações nem desculpas, apenas uma lição, um vídeo e uma saudade que não cabe em 7 letras.

segunda-feira, 29 de março de 2010

:: Poema

Treva I

o braço sequestra a luz
revelando ali toda treva
concomitantemente escondida




Treva II

a treva com frio
abraça carinhosamente
a chama dentro do vazio

domingo, 28 de março de 2010

:: Poema

Falta um coração
É que há dor e medo suficientes para dois
Há pós-modernidade demais para um
E versos vazios para um batalhão

Falta um coração
Mais forte, mais pão, maior
Com coronárias mais vermelhas
que a Marginal ou Vinte e Três

Falta um coração
Do tamanho de Itaquera
Frio e calculado
Maior que o Capão

Faltam mãos
Com seus dedos e palmas
Para em vão massagearem o peito
Desse fibrilado coração.

sábado, 27 de março de 2010

:: Poema

- Sem título -


Há muita alegria e vento fresco lá fora
Já que hoje a tristeza descansa aqui

Passou aperto no trem e metrô
Dormiu no ônibus mas não se recuperou

Num bocejo tudo vira finados
Ou qualquer dia sem samba, sem riso, sem abraço

Nem vinho, cerveja ou cachaça barata
Espanta, anima ou mata

Cansada, enjoada dos outros ficará aqui
Por isso há muita alegria e vento fresco, lá fora.


sexta-feira, 5 de março de 2010

:: Poema


Quadro

caracol de cores -
o estático no branco
enrola nossas dores

segunda-feira, 1 de março de 2010

:: Poema

I

Feliz a lesma marinha
que mesmo cheia de sal
ainda caminha


II

Sopra raso e frio o vento
contraindo pisos e pés
presos no apartamento


:: Poema


Sons soltos na noite
Brindes nunca feitos
uma cena, uma dor, um peito.



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

:: Poema


Carnaval I

soltas mãos desfilam
carícias na quente
cútis sob a roupa

Carnaval II

palavras dançam no ar
: bocas sussurram
desejos de pele