segunda-feira, 16 de março de 2009

: Texto

A experiência é infinita, nunca paramos de aprender, assimilar e sedimentar algum tipo de conhecimento: somos seres culturais. Isso me parece obvio e quase incontestável.

De certo modo, com a afirmação acima, espero deixar claro que não me julgo alguém pronto, acabado ou dono de toda sabedoria mundana.

Entretanto, creio já ter vivido o suficiente em anos e em situações para tecer algumas considerações sobre um dia de trabalho.

Certa vez, ao substituir uma colega numa sala de 1º ano do ensino médio, deparei-me com uma realidade triste, não absurda, apenas triste.

Adolescentes de no máximo 16 anos simplesmente ignoravam minha presença, era como se realmente eu não estivesse ali; decidi não gritar, não autorizar saídas da sala e me neguei a atender solicitações individuais enquanto não pudesse falar com todos e contextualizar minha presença e objetivo. Alguns me diziam: "Professor, dá um grito"; "Se você não berrar, não adianta"; "Vixi professor, você vai ficar aí até amanhã". Continuei em silêncio.

Não acredito no respeito automático por parte deles – algo como só o avental me garante -, mas acredito no respeito ao outro ser humano que divide o mesmo espaço que você, no respeito a quem vai lhe falar algo e você primeiro ouve para depois contestar, e, principalmente, no respeito a quem está trabalhando: seja porteiro, bedel, faxineiro ou professor. A falta de respeito à pessoa, ao outro que lhe é semelhante me entristece sobremaneira.

O comportamento em sala de aula não é exclusivo daquele espaço, os vejo no shopping, na rua, os pais reclamam do comportamento, há uma minoria de alunos sofrendo bulling (?) e colegas professores nos trazem relatos cada vez mais tristes e desanimadores. Talvez sejam apenas coisas da idade, mas se não tiverem limites e aprenderem a respeitar as pessoas agora, quando aprenderão?

A imaturidade os impede de fazerem uso de instrumentos conhecidíssimos como o grêmio escolar, ou qualquer outra associação, para subverterem e melhorarem um tipo de ensino que não os agrada. Apenas se formam mal e causam muito, muito transtorno.

Não fosse nada não me entristeceria tanto, contudo, sendo filhos de quem são, podendo o que podem, esses serão os chefes, os empresários de amanhã – muito provavelmente alguns serão também políticos, afinal de contas, são parte de uma das elites que vivem em terras brasilinas.

Penso e ouço dizer que estamos em transição, numa fase em que nos remodelamos enquanto sociedade e que isso implica em perda, ou melhor, em transformação de valores - confesso ser difícil apontar vilões e vítimas: quem sabe somos todos, em certo grau, mocinh@s e bandid@s – porém não consigo disfarçar minha tristeza, saí completamente arrasado da sala, tão ignorado quanto antes. Pela primeira vez pensei em desistir. Espero seja só vaidade.

4 comentários:

Thai disse...

Ai, essa é uma discussão interminável. Vejo o tema com muuuuuuita cautela... Como vc mesmo disse, é difícil ponderar os dois lados.
Gracias pelo link, vou ver depois com mais calma.
Beijos

Norival Leme Jr disse...

Ah...qdo tiver tempo quero rever e reeeeeeeeeeeeeeescrever o texto e dar continuidade a ele. Há outras neuras que só minha terapeuta sabe...rrsrs

Anônimo disse...

Poeta,
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Reconhecer as nossas fragilidades é o que nos dá força para seguir adiante... Não desanime. Ainda que o professor não tenha o devido mérito, são nossos pequenos gestos que mudam (ou podem mudar, tenho fé), o mundo.
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Saudações,

Thalita Pacini disse...

Você é genial. Sabe que a forma como coloca o problema, sua disposição em refletir sobre o tema, são partes de uma postura digna de pessoas que não apenas passam no mundo, mas que estão nele por um propósito plausível. Eu creio que você não desistirá. Creio que você já é um dos elos de uma corrente que não aprisiona, mas liberta. Uma corrente do BEM COMUM. Você pode, você deve. Você é foda. Todos precisam ser revistos, nós e eles. Eu me lembro de adotar postura parecida no colégio, como estudante. Alguns mestres me roubaram deste transe e sou grata a eles! Hoje sofro alguns prejuízos e teria feito muuuito diferente. Então, Ju, hipnotize-os com sua verve. Roube-os do seu transe. =]

Beijos