Nos últimos anos tenho guardado sorrisos na parede
Têm se acumulado contra minha vontade mas procuro
Entender minha limitação diante da necessidade de se sorrir
Aqui e Além
Onde provavelmente buscam então sorrisos que já tiveram perto
E agora e há muito tempo riem em eco sem fim e buscam também
Os sorrisos que involuntariamente deixaram para trás
É passível de crença terem descoberto que apesar da nobreza das lágrimas
Nas paredes preferimos os sorrisos largos, amarelos, debochados ou de canto
De boca quase disfarçados
Junto a eles há rugas, rusgas, olhos lagrimados,cerrados, comprimidos ou
Profundamente estáticos mirando um ponto a ser fotografado como se a retina
Pudesse então tatuar dentro de algum espaço aquele traço de tempo estancado
Não raro observo estes sorrisos pendurados nesta parede-tempo-de-saudade e
Humildemente esboço um sorriso de volta como se anunciasse sem vergonha
Que chegará minha vez de sorrir completamente num eco sem fim e que por mais
Ansioso e saudoso que possa estar para reencontrar as gargalhadas bufadas e
Retomadas de ar
Ainda corro o risco de pendurar outros sorrisos a-qualquer-momento
menos ou mais amarelos e intensos que o meu
Esta probabilidade quase-me-mareja-os-olhos mas antes disso arde no peito
A gratidão de ter sobre as nódoas uma coleção de sorrisos que me fazem rir por dentro
E fazem saber que terei meu espaço um dia entre tantas boas risadas.