segunda-feira, 24 de agosto de 2009

::: Conto

I
 
Sentia-se mais tranquilo em dias cinzas e frios. Suava menos, não cerrava os olhos por causa da fotofobia e tinha desculpa para um destilado; nos tempos de fartura, um cabernet sauvignon, com esse agradava também a preta véia que insistia em aprender francês.
 
 

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

:: Poema

Meu lugar

Não reconheço meu bairro
Minhas ruas não me dizem nada
Já não encontro velhos amigos
Meus passos já não deixam lastro
A Igreja. Minha igreja já não é mais minha
O pároco se foi, os crismandos, a legião de maria
A rádio calou, os cantos já não consolam mais
A escola onde estudei, meus professores,
por onde andam meu professores
As quadras, as escadas, as tias, meu diretor, meus colegas
não os vejo mais em mim
Seu Teodoro se foi, o peixeiro não me acorda mais
O volei, o futebol, os balões
tudo ficou pra trás
Agora esse vento
esse raio de luz empoeirado
esse instante pausado que entra pela janela em meu quarto
é saudade
saudade de mim
de meu bairro.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

::: Contos

I
 
A mão no queixo denunciava possível reflexão, bela, intelectualizada, fatal ao sorrir, era sempre um tipo diferente de beleza...
 
II
 
Quando sentava em cima do pé gelado, sentia seu coração, contava os batimentos e julgava sua saúde. Pensava, triste, o que faltava realizar.
 
III
 
Acordei com grande senso de filantropia. Abracei no elevador, sorri no trânsito, distruibui trocados nos cruzamentos e paguei a padaria.
 
IV
 
Buscava abstração ou sublimação, não tinha certeza. Certo era que algo continuava muito errado, mas, de mãos atadas, só alcançava um livro.

domingo, 2 de agosto de 2009

::: Conto (?)


tudo em seu devido lugar: queijos para ratos, poeira para ácaros, papeis para traças.
sentiu-se deslocado, suspirou entediado, mirou a sala e abandonou o quarto.
 

:: Poema


cinza e rosa ao longe
o agora
agoniza no horizonte


:: Poema


silêncio no ocaso ecoa
ontem se faz presente
"tempo que voa"...