sexta-feira, 31 de julho de 2009

::: Conto

Morando longe tinha preguiça de voltar. Nenhum caminho de três possíveis lhe agradava. Já não tinha mais ânima para varar noites e trabalhar direto.
Não dava sorte no amor. O emprego ainda era, mas por um fio. Não tinha mais medo. Pudor ou Receio. Pensava na aposentadoria, faltavam 20 anos, mas sempre lhe cobraram planejamento. Sentia-se progredindo, mesmo contra toda expectativa e análise externa. Pensava, pensava e perguntava-se: o que quero mais? o que preciso mais para ser mais feliz?
Preferiu repensar mais um pouco, para não ser taxado de afobado. Acendeu um cigarro, mirou a ponta, encheu os pulmões e pensou "recapitulando, vamos lá...".

::: Conto

Procurava seu próximo passo no zodíaco. Folha de São Paulo, Metro, MetrôNews ou TVMinuto, antes de desembarcar na Barra-Funda. Decidia, assim, se se apaixonaria naquele dia, caso houvesse oportunidade, ou se assumiria postura racional.
Dizia-se ateu, outra vezes agnóstico, muitas vezes já o ouvi dizendo: "não duvido de nada. respeito todos. mas pra mim, morreu acabou." Tinha formação batista, mas desviara-se do caminho.
Não raro apaixonava-se. Quando não entendia o horóscopo - quase sempre - redobrava sua atenção, mirava todas. Por isso, quando a mensagem era clara, não hesitava.
Certa vez, viu a seguinte previsão: Aproveite, só hoje, sorte no amor e favorecimento no jogo. Animou-se, sua vida mudaria contrariando o mais verdadeiro e antigo ditado popular da humanidade.
Empolgado procurou a lotérica, arriscou sem disciplina alguma as seis dezenas. Já pensava como gastar tanto dinheiro com sua nova namorada, que ainda iria conquistar mais à noite.
Chegou cansado, porém empolgadíssimo com o sucesso que lhe aguardava. Ligou. Reservou uma dúzia e meia de rosas vermelhas argentinas. Buscou e foi entregar.
Sequer foi recebido. Taxado de louco e dispensado através de um torpedo, regressou cabisbaixo. Resolveu voltar a acreditar no ditado popular. Era isso, ficaria rico.
Ao conferir o resultado foi ao bar, encontrou um amigo antigo, divorciado, mas que retornara para esposa naquele dia e tinha ido receber uns trocos que o grupo tinha lhe rendido. Não teve dúvidas, carinhosamente como apenas um homem alcoólico saber ser, abraçou o amigo, beijou-o, disse o quanto lhe gostava e entregou-lhe o buquê rosal, para que a noite de retorno fosse mais temperada e aquecida. Garoava muito. Véu espesso de água descia e prateava a cútis negra.
Até hoje procura seus passos no zodíaco e atribui tal fracasso à nacionalidade das rosas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

::: Conto

Os pés gelados, a mão seca, os olhos longe. O silêncio, que terrível é o silêncio. Não há mais ausência, espera, aquele olhar fixo no relógio, angústia também não há.
Tosse, tosse, tosse. Músculos se contraem. Silêncio.



domingo, 12 de julho de 2009

:: Poema

(quando nasce a saudade II)

folhas no chão
horizonte ao longe
marca salobra na face


:: Poema

Da Chuva


Alguns pingos
Sempre as mesmas gotas
Talvez
Sempre a mesma chuva
Fria, densa
Barulhenta e delicada
Ressuscitando fantasmas
Destilada
Simplesmente
Embala
Acalma