Final de domingo...
Folheio um jornal já sem esperanças: - não há mais poesia nos jornais.
Me levanto como se isso fosse algo extremamente penoso, dolorido, um sacrifício quase impossível. Lamentações sobre a segunda-feira que se aproxima e sobre a vida me vêem à cabeça, não dou atenção e continuo minha jornada.
O velho ronca quase pra si no sofá, abaixo a tv, ele inconscientemente resmunga algo inaudível e logo adormece.
Apago a luz da cozinha, antes miro em vão a posição de cada uma das peças que estão sobre a gasta mobília – ouço atentamente o barulho que faz a geladeira parecer um inseto.
Lento e de cabeça baixa, buscando um pensamento, avanço rumo ao meu objetivo, antes vejo a mulher que há 28 anos fugira comigo da maternidade entregue aos lençóis como se isso pudesse remediar todas as coisas, apago sua tv, penso em deitar a teus pés, mas logo essa fraqueza se afasta e retomo meu caminho rumo ao meu canto circundado de palavras caladas...